
Quando alguém me pergunta a minha profissão e falo que sou guia de turísmo, já me preparo para ouvir "nossa que profissão boa, você vive só, conhecendo vários lugares bonitos e ainda ganha pra isso". A maioria das pessoas não conhece a minha profissão e acha que tudo é maravilhoso, que entramos no ônibus sentamos na poltrona e ficamos ali confortavelmente até chegar ao destino. Não é bem assim, viajamos a trabalho e temos que administrar várias situações.
Semana passada mesmo acompanhei um grupo numa excursão ao Beto Carrero em Santa Catarina. Sai de casa às 06 horas, fui pegar o grupo no interior para viajar para Curitiba. Viajamos o dia todo e a noite também e chegaríamos às 10 horas do dia seguinte. Mas ficamos parados 02 horas num acidente na Via Dutra e depois mais 05 horas na Rodovia Régis Bittencourt. Conclusão, chegamos 12 horas depois do previsto e o grupo perdeu a programação do dia. Agora imagina a situação do guia com um grupo de 47 pessoas num ônibus sem poder sair, com fome e com crianças naturalmente irritadas.
Pois é, abri esta página para poder relatar situações vividas durantes as minhas viagens. Divirta-se.
CAMBADA DE VELHOS.
Estava eu com um grupo de melhor idade fazendo o roteiro de cidades históricas. Chegamos em São joão Del Rei para fazer tour e depois no fim da tarde fomos para Tiradentes onde nos hospedamos.
O problema é que a pousada era no centro histórico e ônibus não entra no centro, o grupo tem que descer no estacionamento e ir caminhando ou pegar um taxi. O guia local que nos atendia quando soube onde era a pousada e viu o grupo, quis ajudar e ligou logo para a pousada para conseguir autorização para o ônibus chegar até a porta da mesma. Como ele estava tendo dificuldades para conseguir, ele esqueceu que o grupo estava todo perto dele, e falou bem alto "o ônibus tem que ir até a porta da pousada porque o grupo é uma cambada de velho". Ele ficou todo sem graça quando percebeu que o grupo olhava pra ele. A sorte dele é que o grupo não aguentou segurar o riso e todos deram uma boa gargalhada.
Com isso chegamos com oônibus até a porta da pousada. E toda vez que o grupo faz este roteiro é inevitável não lembrar deste fato. E nunca mais encontrei com o guia.
CAFÉ GELADO.
Estava com um grupo de crianças indo para o Beto Carrero e a nossa primeira noite de viagem foi em São Paulo. E o café da manhã do hotel era simplesmente maravilhoso com uma fartura e grande variedades de coisas.
Derrepente observei que uma menina estava com o prato cheio de gelo. Aroprietária da agência, que estava na viagem, também observou e comentou comigo.
Perguntei pra menina se estava tudo bem e ela respondeu que sim. Perguntei se ela não queria pão, queijo ou outras coisas, e ela falou que não, que queria só gelo. Achei estranho mas fiquei na minha.
E só depois de um tempo que fui saber que ela só pegou gelo porque achou que as outras coisas eram pagas e que o gelo era de graça.
Imagina só uma pessoa, mesmo sendo uma menina, comer gelo no café da manhã! imagina uma pessoas ver todo mundo comendo e pegando as coisas a vontade e não ter a curiosidade de perguntar se tinha que pagar ou não. E olha que passei todas as informações antes no ônibus.
CADÊ BLUMENAU?
Viagem para o sul do Brasil, a segunda cidade do roteiro foi Blumenau em Santa Catarina. Chegamos a tarde, a noite levei o grupo para jantar, no dia seguinte fizemos City Tour, e o restante da tarde o grupo ficou livre. Dormimos mais uma noite na ciadade e na manhã seguinte seguimos viagem para Porto Alegre.
Depois de uma hora e meia aproximadamente de viagem, estava eu conversando com o grupo e mostrando o lugar onde estávamos passando quando uma passageira interrompe e pergunta pra mim que dia que nós iríamos para Blumenau. Eu não entendi e achei que esla tivesse errado o nome da cidade e perguntei Blumenau? e ela respondeu certa daquilo que estava falando "é Blumenau, quando vamos pra lá?"
Deu vontade de rir, mas segurei o riso e falei que nós estávamos lá e que não iríamos voltar a Blumenau. Ela ficou surpresa com a resposta e exclamou "aquela cidade era Blumenau!?"
Agora imagina você uma pessoa ficar duas noites numa cidade e não ter noção de onde estava.
O GUIA É CULPADO.
Estava na cidade de Fraiburgo, Santa Catarina, fazendo o passeio no bosque de maçã e em seguida a guia local nos levou para a barraquinha da maçã onde o grupo comprou tudo que tinha direito, depois fomos para a casa do artesanato onde o grupo mais uma vez teve tempo para as compras. Quando derrepente uma passageira me chama com um artesanato na mão e pergunta " como você vai resolver issso? ". Eu fiquei sem entender nada e antes que entendesse ela foi logo questionando o fato de ter comprado o mesmo artesanato na loja anterior com R$ 5,00 a mais no preço. E questionava se eu iria resolver aquilo ou se ela teria que voltar à loja para devolver o que comprou.
Ela argumentava que isso não podia acontecer, que era para ter ido primeiro naquela loja e depois na outra e que a guia local e eu tínhamos que fazer alguma coisa, como se nós fóssemos os responsáveis em colocar os preços nas mercadorias do comécio.
A guia local, coitada, assustada mostrou outras coisas que estavam mais caras alí do que na outra loja, mas ela não aceitou os argumentos. Saimos da loja e a passageira continuava indignada.
SÓ TEM VELHINHOS.
Em uma viagem ao sul do Brasil com Foz do Iguaçu com um grupo de turismo de terceira idade, o ônibus estava com o bagageiro cheio de sacolas. Mas apesar de grandes volumes, eram somente presentinhos para os netos e enfeites de natal.
Na volta de Foz do Iguaçu, fomo sparados pela Receita. Um fiscal entrou no ônibus, e um outro pediu para o motorista abrir o bagageiro. O que entrou no ônibus ao ver as pessoas que estavam ali, voltou do meio do corredor e saiu. Ao sair, viu o colega em frente ao bagageiro do ônibus e foi logo falando " não precisa abrir o bagageiro, aqui só tem velhinhos!", o fiscal que estava no bagageiro logo respondeu " é, mas esses velhinhos compram pra caramba!".
Os dois começaram rir e liberaram o ônibus.
PASSAGEIRA ADIANTADA.
As agências e operadoras de turismo passam o número do telefone do guia para os passageiros, e por causa disto muitas vezes não temos tranquilidade.
Uma noite antes de uma viagem ao nordeste resolvi desligar o meu celular para ter uma noite tranquila de sono, já que a primeira noite da excursão seria no ônibus viajando. Mas não sei o que aconteceu quando fui desligar o celular, pois as 05 horas da manhã o telefone tocou e eu tomei um baita de um susto.
Era uma passageira falando que estava no local de embarque e queria saber se o ônibus iria demorar a chegar.
Eu custei a acreditar naquilo. Informei para a passageira que a viagem seria só no dia seguinte e que ela tinha errado a data da viagem. Ela informou que a agente de viagem tinha passado pra ela aquela data. Então pedi pra ela ligar para a agente dela e desliguei o meu celular pra voltar a dormir.
TELEFONE OUTRA VEZ.
Estava eu no hotel em Fortaleza e as 06h40min o meu celular toca. Quando olhei o visor não tinhao nome da pessoa mas tinha o código de área 27, que é do Espírito Santo. Quando vi aquilo naquela hora da manhã tomei um susto, pensei logo que tinha acontecido alguma coisa com alguém da minha família.
Mas era só uma passageira que estava hospedada no mesmo hotel que eu e ligou para saber do City Tour.
Eu não acreditei naquilo, pois já havia passado todas as informaçãoes. E porque a criatura não ligou para o meu apartamento?
Ela percebeu que eu não gostei daquilo e não gostou de eu não ter gostado.
SERIADO DENTRO DO ÔNIBUS.
Em uma destas viagens, um passageiro chega pra mim no penúltimo dia da excursão e entrega pra mim um porta DVD com 05 discos. Era uma gravação de uma mini-série de TV, ele pediu para eu passar no ônibus durante a viagem, já que a viagem de volta era longa. Só que cada disco tinha 03 hora de duração e ele achava normal assistir toda série de uma vez só. É claro que não passei toda a série, e ele não gostou.
TODO CUIDADO É POUCO.
Fazia eu uma viagem ao Beto Carrero e tudo corria bem. Um dia antes da viagem de retorno, fomos para mais um dia de parque e voltamos para o hotel que ficava na cidade de Blumenau. Já era noite quando retornamos e na hora do desembarque do pessoal na porta hotel, uma passageira pisou em falso na escada do ônibus (o ônibus era um DD, mais conhecido como ônibus de 02 andares). Eu estava na porta do ônibus ajudando no desembarque, mas mesmo assim não pude evitar a queda que resultou em fratura exposta na perna. A mulher gritava e chorava muito. Eu e os motoristas tentávamos ajudar mas não era possível. Tive que chamar o resgate do corpo de bombeiros para retirar a mulher da escada e levar para um hospital.
Fui acompanhando a mulher até o hospital. Ela precisou ficar internada pois teve que fazer uma cirurgia. Eu tive que passar a noite com ela no hospital. Foi uma noite terrível, pois ela não conseguiu dormir e reclamava de dor.
No dia seguinte às 06 horas eu voltei ao hotel, tomei um banho, coloquei o uniforme e viajei de volta para Vitória (uma viagem de 24 horas).
Depois de um tempo recebi uma intimação, pois a passageira colocou a empresa na justiça alegando que não recebeu atendimento, inclusive do guia de turismo (Eu).
SÓ PRA CONTRARIAR.
Excursão para Poro Seguro. Chegamos logo pela manhã e fui direto ao hotel para fazer o Check in. Entreguei as chaves do apartamento aos passageiros e pensei que poderia ir para o meu apartamento tomar um banho, quando apareceu um passageiro reclamando que o apartamento dele não era o que tinha sido vendido. O quarto que ele estava era de frente para o mar como o agente de viagem havia falado (eles prometem cada coisa para não perder a venda). Tentei argumentar mais não teve jeito. O pessoal da reserva argumentou mais não teve jeito. Ele queria um apartamento de frente para o mar, mas o hotel estava lotado.
Depois de um tempão na recepção tentando resolver a situação, ele vira pra mim e fala " eu vou embora, não vou ficar aqui ". Eu que já estava puto da vida virei para a recepcionista e falei " por favor chame um táxi para este senhor, pois ele vai embora ". O passageiro quando ouviu aquilo, olhou pra mim bufando e disse " é assim que voce atende os cliente? ".
Expliquei mais uma vez que não tinha jeito. Ele então voltou para o apartamento e ficou até o fim da excursão.
SÓ PRA CONTRARIAR II.
Estava com um grupo já conhecido fazendo o roteiro do sul do Brasil. Muita gente do grupo já havia feito o roteiro por muitas vezes. Uma dessas passageiras durante o City Tour em Blumenau, reclamou bem alto para eu ouvir que toda vez era a mesma coisa e que ela deveria ter ficado no hotel. Então para ajudá-la, falei para ela que eu poderia chamar um táxi para levá-la até o hotel. Ela toda educada agradeceu e disse que ia continuar o passeio.
Alguns minutos depois chega uma outra passageira pra mim e fala que a "fulana" saiu espalhando para o grupo que não era para reclamar do passeio pois senão eu iria mandar embora para o hotel. KKKKKKKKKKKK. Vê se pode isso!
Esta passageira viajou até falecer, repetindo os roteiros e reclamando deles.
Fonte http://www.guiaeturismo.com/
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